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quarta-feira, 15 de maio de 2013

Thiago Arancam, uma carreira de sucesso


Thiago Arancam se destaca na ópera internacional.

Aos 31 anos, o paulista tem eventos agendados até o ano de 2015, acompanhado pelas maiores  orquestras da música ocidental.

Thiago, uma voz excepcional de tenor lírico “spinto”, foi nosso aluno na Faculdade de Música Carlos Gomes, em S. Paulo, onde se graduou em Canto Lírico em 2003, tendo cursado primeiro a  Escola Municipal de Música de S. Paulo. Dentre seus mestres de canto encontra-se o respeitado  tenor paulistano Benito Maresca  (1934-2011).

O início da carreira de Arancam deu-se em 2004 quando recebeu o prêmio Revelação no Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão e ganhou uma bolsa de estudos do Projeto Vitae. Com isso, passou a frequentar a  Academia de Canto Lírico do Teatro alla Scala, de Milão, onde estreiou em concertos líricos em 2005, e diplomou-se em Canto Lírico em 2007.  Iniciou-se na ópera com De Villi, de Puccini. Em 2008 realizou uma tournée pelos Emirados Árabes com a orquestra da Academia do alla Scala. E se apresentou em Brasília com a Camerata Brasil.

Em Bolzano, na Itália, ganhou o prêmio Alto Adige-Talento Emergente della Lirica – 2007/2008.  

O grande impulso em sua carreira foi a participação, em 2008, no conceituado concurso de canto lírico internacional Operalia ,  promovido por Plácido Domingo, quando  ganhou o Prêmio Zarzuela, o Prêmio do Público e o segundo lugar na categoria Prêmio Ópera. Foi escolhido por Plácido Domingo para fazer o papel de Dom José na ópera Carmen, de Bizet, no Washington National Opera (EUA). Em 2009, protagonizou Cavaradossi, da Tosca de Puccini, em Frankfurt; ainda Conde Maurício, da ópera Adriana de Lecouvreur, de Francisco Cilea, em Torino, Itália; e Radamés, na Aida, de Verdi, em Sanxay, França.

Atualmente, tem protagonizado espetáculos em algumas das principais casas de ópera do mundo. No dia 2 de março, estreou na Semperoper, de Dresden, no papel de Des Grieux, em Manon Lescaut, de Puccini, sob a regência do famoso maestro Christian Thielemann;  mês passado interpretou Don José, da ópera Carmen, de Bizet, na Staatsoper, de Munique; com estreia em 16 de abril, repetirá o mesmo papel na Carmen, no Teatro Colón em Buenos Aires e depois na ópera de Los Angeles; em 2014 participará da encenação da ópera Manon Lescaut, de Puccini, em Baden-Baden, sob a regência de Sir Simon Rattle.  

Hoje residindo em Mônaco, Thiago é um cidadão do mundo, que percorre com sua carreira de sucessos.

Ele afirma que “a voz a gente não inventa, ela vem conosco. É como a estatura”  (Folha de S. Paulo, 14 mar. 2013, fl E7)  http://www.thiagoarancam.com/

Há uma excelente entrevista com Thiago Arancam, inclusive cantando algumas árias, no site:

sexta-feira, 10 de maio de 2013

A lira de Ur


Lira suméria de cerca de 4.500 anos
( Rev, Concerto, junho, 2010)
 
O instrumento musical exposto é a réplica de uma lira de 4.500 anos, descoberta por arqueólogos em 1929, no lugar onde na Antiguidade se situava a cidade de Ur, habitada pelos sumérios, hoje Tell el Mukayyar, entre Bagdá e Basra, no Iraque.
O original da lira, um dos mais antigos instrumentos musicais jamais encontrado, tinha uma decoração preciosa com madrepérola, lápis lazuli, calcário rosa, ouro e prata. Sua construção era um raro exemplo para estudo da possível concepção da música na época: pelo número das cordas , as possibilidades harmônicas e melódicas; pela extensão das longas cordas de tripa, a tessitura dos sons; na dimensão da caixa acústica, o volume sonoro, etc. Além do capricho estético com a beleza física do instrumento.
Este tesouro incalculável para a  história da música estava no Museu Nacional do Iraque quando houve o bombardeio de Bagdá pelos americanos e aliados, em 2003. O Museu foi destruído e ficou a mercê dos saqueadores. Com isso, cerca de 170 mil peças únicas, de milhares de anos, atestados de culturas antiqüíssimas ... se perderam.  E a lira foi encontrada despedaçada e sem os metais preciosos ... no estacionamento do Museu!   É quase inacreditável!
Depois disso, um harpista chamado Andy Lowings, inconformado com a profanação da lira, dedicou anos a reunir artesãos e materiais iguais aos do original, como conchas de madrepérola do Golfo Pérsico, madeira de cedro de Bagdá, etc., e construiu a magnífica réplica da lira dourada de Ur, cuja imagem ilustra este texto.
Acesse também www.lyre.of.ur.com

domingo, 5 de maio de 2013

Sobre a Orquestra Sinfônica Brasileira




Pessoal da Música

Voltando à Orquestra Sinfônica Brasileira, a suspensão da verba de R$ 8 milhões pelo prefeito Eduardo Paes foi cancelada, possivelmente em razão da má repercussão no meio da população, dos músicos, das entidades e representantes da categoria, além do empenho do presidente da Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira (FOSB), gestora da   Orquestra Sinfônica Brasileira e Orquestra Sinfônica Brasileira Ópera & Repertório. Esse corte retiraria 20% de um orçamento de R$ 40 milhões. Em contrapartida, em reunião do prefeito com o Conselho da Fundação e o Secretário Municipal de Cultura, Eduardo Paes exigiu que o Secretário integrasse o corpo de conselheiros para “aproximar a FOSB e órgãos municipais”.

A OSB é uma das mais importantes orquestras brasileiras, fundada há mais de setenta anos. É um organismo público-privado com recursos do BNDES, da Vale do Rio Doce e da iniciativa privada, recebendo o apoio do Município do Rio de Janeiro.    

Parece ótimo ... mas não é. Continuam os problemas. Não foi descartada a intenção de reunir as duas orquestras: a OSB com  a Orquestra Petrobrás Sinfônica em uma única grande orquestra “como o Rio de Janeiro merece”.Ver detalhes no facebook:  niomar.souza.12. Leia mais sobre esse assunto em



Um absurdo da cabeça de quem não entende de música clássica e, no mínimo, para invadir seara alheia, devia pedir assessoramento a um especialista sério e honesto para não fazer bobagem. A presidente do Sindicato dos Músicos Profissionais do RJ, por exemplo, afirma ser essa pretensão, estapafúrdia e sem sentido. A prefeitura divulgou que alguns músicos tocam nas duas orquestras o que não é verdade uma vez que na OSB o trabalho é em regime de exclusividade.


 

E os problemas continuam. No site  Para Onde Vai a Orquestra Sinfônica Brasileira,


encontramos que o Secretário de Cultura e o presidente do complexo cultural Cidade das Artes divergem sobre ceder espaço neste local para a OSB e  OSB O&R cumprindo a promessa feita pelo prefeito Cesar Maia, em 2002.

A Cidade das Artes, situada na Barra da Tijuca,  é uma edificação moderna e ampla, destinada a abrigar eventos culturais artísticos que levou 10 anos para ser concluída e custou mais de R$ 500 milhões, sendo que no início foi pensada como Cidade da Música.

O Secretário Municipal de Cultura afirma que instalar a OSB e OSB O & R na Cidade das Artes é o caminho “natural”. A OSB é  A orquestra do Rio de Janeiro.

O presidente da Fundação Cidade das Artes insiste que esta “não será a casa   da OSB e nem de ninguém. É inviável”. Uma orquestra com mais de duzentos funcionários ocuparia integralmente o espaço inviabilizando o uso das salas e a apresentação de várias produções simultaneamente.

Já o presidente da Fundação OSB esclarece que seu sonho é estabelecer a sede da orquestra o quanto antes na Cidade das Artes, o que faz sentido para os músicos e para toda a cidade do Rio.

Em meio à indecisão, estão os mais de cem músicos das orquestras da Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira.

A Cidade das Artes será inaugurada no próximo dia 16 com os seguintes espetáculos: um balé de Deborah Colker, uma peça de Marco Nanini, um recital com a pianista Tamila Salindjanova e shows de Elza Soares e do DJ Mark Lambert.


A Orquestra Sinfônica Brasileira merece muito mais respeito e reconhecimento pelo papel essencial que representa para a cultura do Rio de Janeiro.

terça-feira, 30 de abril de 2013

O Samba de S. Paulo está de luto: morreu Paulo Vanzolini


 Paulo Vanzolini

Está de luto o samba de São Paulo. Morreu Paulo Vanzolini, um dos seus maiores representantes, autor de Ronda, Volta por Cima, Na Boca da Noite, Praça Clóvis, Alberto, Capoeira do Arnaldo, dentre outras cerca de  setenta composições.

Está de luto também a comunidade acadêmica pois Vanzolini era um cientista, doutor em Zoologia, considerado o maior zoólogo da Capital,  tendo sido diretor do Museu de Zoologia da USP onde atuou por mais de 40 anos. Foi um dos idealizadores da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo). Recebeu numerosos prêmios como o da Fundação Guggenhein, em Nova York, em 2008. Escreveu mais de 150 artigos acadêmicos, dois livros sobre zoologia, um que é um resgate de trabalhos de naturalistas estrangeiros que estudaram a fauna brasileira no século XVII, produziu 3 documentários, etc.

“...cientista e boêmio irreverente cheio de disciplina e rigor de homem da noite que faz do dia seu espaço de trabalho [...] Viva pois esse Paulo poeta compositor cientista boêmio conversador que soube fixar tão bem pela arte momentos significativos da vida” Disse o literato Antonio Cândido


Lembrando a poética e a filosofia de vida de Vanzolini:

Chorei, não procurei esconder / Todos viram, fingiram/ pena de mim não precisava / Ali onde eu chorei / qualquer um chorava / Dar a volta por cima que eu dei / Quero ver quem dava/ Um homem de moral não fica no chão / nem quer que mulher venha lhe dar a mão / Reconhece a queda e não desanima / Levanta sacode a poeira / Dá volta por cima.  (Volta por cima)

sábado, 6 de abril de 2013

A Índia, o bebê e o porquinho do mato

Da cultura dos índios Guajá

A índia Guajá, o bebê e o porquinho do mato


Existe maior compromisso com a Natureza e a vida do que um gesto como esse?

 

Com o filho Tamataí no colo, a índia Huyra amamenta um filhote de porco-do mato, repetindo um hábito dos Guajá de tratar como crianças os filhotes de animais que matam.    

                                                          (Folha de S. Paulo, 20/12/1992)

 

        Acontece assim: alguém da tribo caça um animal e percebe que é uma fêmea e tem filhotes. Os “bebês” morrerão de fome se ficarem abandonados no mato. Ou poderão ser comidos por outros bichos.  Eles são então levados para a aldeia e as mulheres que estão amamentando também os alimentam.

        Simples assim. Sem discurso de ambientalistas, ecologistas, sociedades protetoras de animais ou repórteres de televisão.       Apenas a visão de mundo de seres humanos que cuidam da Natureza porque ela lhes dá a vida.

 

        Guajá é uma etnia indígena brasileira que se auto-denomina Awá, palavra que significa Homem, Pessoa ou Gente. Começou a ter contato permanente com o homem branco a partir de 1973 e habita o noroeste do Maranhão nas Terras Indígenas do Alto Turiassu e TI Caru, compartilhadas pelos Ka´apor, Timbira e Guajajara.

        Mais ao sul, nas TI (significa Terras Indígenas) Arariboia, foram avistados outros grupos de Guajá, estes arredios,  em acampamentos abandonados. Sabe-se de  outros mais distantes ainda, também sem contato com o branco, que se movimentam pelas serras e chapadas que ligam Maranhão, Tocantins, Goiás, Piauí, Bahia.

        A classificação lingüística dos Guajá é Tupi-guarani portanto do tronco Tupi. Sua população hoje é de cerca de 230 indivíduos vivendo em quatro comunidades aldeadas pela FUNAI; e acredita-se que cerca de 30  deles são os que habitam as florestas, em completo isolamento.

        Agricultura itinerante, caça e pesca são suas atividades de sustentação. Plantam mandioca, arroz, milho, batata doce, cará, banana, melancia, laranja e fazem muito uso do babaçu.

        Em sua organização social,  ao longo da vida, homens e mulheres podem ter vários matrimônios.

        Eles praticam um ritual chamado “viagem para o céu” (ohó iwa-beh),  em noites de lua cheia. Os homens são preparados pelas mulheres com enfeites de plumagem de aves e cantam e dançam ao redor da takaia, construção preparada no descampado da aldeia. Depois entram na takaia, um de cada vez e continuam dançando e batendo fortemente os pés no chão. Com o impulso deste forte movimento, sobem ao céu onde encontram os antepassados e outras entidades espirituais com  as quais interagem.  Retornam à terra “incorporados” e vão, dançando, ao encontro das mulheres e familiares que abençoam com sopros. As mulheres não “viajam” mas têm participação importante: pedem que eles voltem ao céu e tragam de lá entidades específicas para as consultas ou para a cura.       No momento deste ritual, o homem torna-se o elo de ligação entre o mundo dos espíritos e o mundo físico do cotidiano da comunidade.

        Os Guajá foram estudados pelo etnólogo paraense Louis Carlos Forline, da universidade Federal do Pará e do Museu Emílio Goeldi, que fez das suas pesquisas a tese de doutoramento The Persistence and Cultural Transformation of the Guajá Indians, aprovada pela Universidade da Flórida, em 1997. Ele tem obras publicadas sobre o tema.

        Para maior conhecimento,  vejam:



 

       

       

 

quarta-feira, 3 de abril de 2013

domingo, 31 de março de 2013

É TEMPO DE AMOR - modinha de Guerra Peixe

Esta partitura é para Sandro Bodillon, um dia um jovem e promissor estudante do curso de Canto Lírico e então meu aluno de História da Música e Folclore, na Faculdade de Música Carlos Gomes. Hoje um profissional respeitado e competente, na época cantou essa peça e eu o acompanhei ao piano. A seu pedido eu a posto aqui.É uma peça difícil de ser encontrada no mercado. Ao mesmo tempo constitui uma lembrança gostosa de um bom e amigável relacionamento acadêmico.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

Rabeca, o violino folclórico

Rabeca é o violino folclórico. Sua performance pode ser em solo, em grupos instrumentais ou acompanhando o canto. Tem quatro cordas, geralmente afinadas por quintas (sol, re, la, mi) ou três cordas ativas e a quarta vibrando por simpatia. As cordas são friccionadas com arco de crina ou fios de cauda de cavalo untados com breu. Tem som fanhoso, meio áspero e é encontrada também acompanhando o acervo poético cantado no nordeste brasileiro. É comum o instrumentista, na execução do instrumento, ao contrário da posição habitual do violino, deitá-lo ao longo do braço esquerdo mantendo a caixa junto ao peito e o braço voltado para baixo. Ver exemplos em vídeos na Internet nos endereços abaixo (disponíveis em 06/06/12). http://www.advivo.com.br/blog/fernando-augusto-botelho-rj/instrumento-com-estilo-rabecahttp://www.advivo.com.br/blog/fernando-augusto-botelho-rj/instrumento-com-estilo-rabecahttp://www.advivo.com.br/blog/fernando-augusto-botelho-rj/instrumento-com-estilo-rabecavvv A rabeca tem uma simbologia tradicional que é quase uma alegoria à imagem de Jesus crucificado: as cordas representam o corpo de Jesus distendido sobre o lenho (representado pelo braço do instrumento) e o arco completa a cruz como os braços abertos de Cristo, porém ferindo-o no peito. Outra simbologia forte da rabeca refere-se às cordas de tripa de carneiro, uma vez que Jesus é o cordeiro de Deus. Mitos e acontecimentos lendários cercam a história da rabeca. Na Europa feudal era muito conhecida a narrativa sobre Jehan Blondel, menestrel e pajem do rei da Inglaterra Ricardo Coração de Leão que, tocando sua rabeca, salvou o soberano aprisionado na torre do castelo de Durrenstein, e vigiado noite e dia, por ordem do rei da Áustria. No papel de cantor ambulante, Blondel percorreu castelos da Áustria cantando canções conhecidas pelo rei que, um dia, respondeu do alto torre. O jovem voltou à Inglaterra e revelou a localização do cativeiro. No ano seguinte, 1194, o rei foi resgatado (CASCUDO, 1969). O instrumento é às vezes o ganha pão do rabequeiro. O cego Sinfrônio Pedro Martins, tocador nordestino famoso, assim louva sua companheira fiel: Esta minha rabequinha É meus pés e minhas mãos, Minha foice e meu machado, É meu mio e meu feijão, É minha planta de fumo, Minha safra de algodão. (CASCUDO, 1969, p. 518)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Liliana Bollos convida para o lançamento do CD DEZ ARRANJOS de Fernando Correia

Caros amigos, gostaria de convidá-los para o lançamento do CD DEZ ARRANJOS do Fernando Corrêa Combo na próxima quinta-feira, e aproveitando este e-mail para divulgar nossos próximos eventos. Ouçam o novo arranjo de Fernando de “Blues for Jim” com a Orquestra Jazz Sinfônica, cuja primeira gravação participei (CD Em contraste está em seu site www.fernandocorrea.mus.br para download). Grande abraço, Liliana Dia 30/8 - Lançamento do CD Dez Arranjos do Fernando Corrêa Combo no Jazz nos Fundos, quinta-feira, 22h Dia 02/9 – Lucas Bonetti Octeto convida Fernando Corrêa no Centro Cultural Rio Verde, domingo, 14h. Dia 03/9 - Palestra "Bossa nova: um sopro de renovação na cultura brasileira" na Semana de História, FACCAMP, 19:30-22:30h. Dia 07/9 – Quarteto Impossível. Ao Vivo, 20:30h. Dia 25/9 – Liliana Bollos piano solo no projeto Música de bandeja no SESC Pinheiros, terça-feira, 12:30-14h. "Blues for Jim" (composição e arranjo Fernando Corrêa) - Orquestra Jazz Sinfônica dia 06/06/2012, SESC Pinheiros. http://www.youtube.com/watch?v=PXFjjlwaCeA&list=UUX0u2NdzRpNRuZGlntIn4EQ

sábado, 14 de abril de 2012

História do Folclore

História do Folclore
Folk = povo Lore = sabedoria
Folklore = sabedoria do povo

Sabedoria do povo sempre existiu, em todo o tempo e lugar. Mas foi no século XVIII que se estabeleceu uma filosofia, uma forma de pensamento que permitiu se considerar como valor essencial todo esse acervo de conhecimentos que abrange: crença, moral, usos e costumes. linguagem, literatura, mitos, arte, medicina, superstições, agricultura, caça, pesca e outros.
Historicamente, as doutrinas que levaram ao reconhecimento da importância da sabedoria popular, se devem a três grandes filósofos ( que foram precedidos por Montaigne, 1533/1592):
* Gianbattista Vico ( Nápoles, 1668-1744) - contrário ao racionalismo de Descartes, esboça, a primeira filosofia da História: civilizações começam com a idade dos deuses, depois dos heróis, depois do homem; aí, retrocede à barbarie (antecipa Herder, Hegel e a teoria das três fases de Comte ). Reconheceu o valor da poesia popular antecipando o gosto do pré-romantismo. Expôs suas idéias na obra Sobre a Mais antiga Sabedoria dos Itálicos , de 1710. Em Scienza Nuova afirma que a História se faz pela sabedoria popular.
* François Marie Arouet Voltaire ( Paris, 1694-1778). Insistiu no valor dos costumes, na formação dos povos. Em Essai sur les Moeurs , de 1758, reclamava o interesse da História pela vida cotidiana - comidas e bebidas, vestuário, casas, costumes. Não só falar de reis, batalhas, vitórias, e sim do povo, do homem desconhecido, o construtor de todas as coisas.
* Jean Jacques Rousseau ( Genebra, 1712-1778). Fez a apologia do homem da natureza; o progresso das ciências e das artes só corrompe os costumes, pois delas provêem os vícios.O homem feliz é o homem da natureza, onde reina a igualdade. Com essa idéia, Rousseau sacudiu a sociedade e deflagrou a Revolução Francesa, assentou as bases da democracia e criou o Romantismo.
Ainda se deve considerar o alemão, escritor e filósofo, Herder (1744-1803) que observou o sentido da criação popular na poesia e na língua: voz pura que ressoaria depois na obra dos grandes artistas. Na língua, o dinamismo com que se manifesta a inspiração do povo.
Artistas como Goethe: única poesia veradeira é a do povo; Shakespeare, inspiração nas estórias contadas pelo povo. Em D. Quixote, Cervantes faz repercutir nos provérbios a imensa sabedoria popular.
Três grandes livros emocionaram e, com isso, também contribuíram para a valorização da sabedoria popular: os Contos de Perrault (1697), “As Mil e Uma Noites” (1704-1717) e os Poemas de Ossian (1760). (Ossian foi herói e poeta mitológico escocês do séc. III; ficando cego, cantou os feitos de sua família e do seu povo.)
São todos precursores do Romantismo, esses que anteviram a riqueza e a importância do folclore. Mas foi no séc. XIX, já em plena florescência do Romantismo, e dentro do seu espírito, que se empreendeu a primeira pesquisa, no caso da literatura oral, pelos pioneiros germânicos, os irmãos Grimm, Jacob ( 1785-1836) e William (1786-1859). Eles coletaram contos, lendas, mitos, e ampliaram a pesquisa para vários outros setores do conhecimento humano.
O estudo da sabedoria popular passou a fazer parte do estudo das culturas ( deixou o plano histórico). Já não era suficiente saber como foi no começo, mas sim como era no presente, porque existia e como funcionava. Percebeu-se o seu potencial de energia e força e sua relação direta com as maneiras de sentir e encarar a vida.
O Romantismo foi o grande momento para a floração do folclore e folclore como ciência é um produto do Romantismo.
E é neste momento que o arqueólogo inglês William John Thoms torna-se responsável pelo uso da palavra folklore para definir a cultura proveniente da sabedoria do povo, e pelos estudos mais sistematizados do que se chamou a princípio “antiguidades populares”, hoje folclore.
William John Thoms era um arqueólogo inglês nascido em Westminster em 1803. Desde a juventude dedicara-se ao estudo das “antiguidades populares”; foi fundador de uma revista , “Notas e Perguntas”para intercâmbio de dados sobre literatura popular. De suas obras destacam-se “Canções e Lendas da França, Espanha, Tartária e Irlanda” e “Canções e Lendas da Alemanha.
Em 1846, usando o pseudônimo de Ambrose Merton, escreveu à revista The Atheneum, de Londres, pedindo apoio para um levantamento de dados sobre usos, tradições, lendas e baladas da Inglaterra. Sua carta publicada em 22 de agosto, registra pela primeira vez a palavra Folklore:

... Suas páginas mostraram amiúde tanto interesse pelo que chamamos na Inglaterra de “Antiguidades populares” ou “Literatura Popular”, embora seja mais precisamente um saber popular ... e que poderia ser com mais propriedade designado com uma boa palavra anglo-saxônica, Folklore – o saber tradicional do povo.

Em 1878 fundou-se em Londres a primeira associação científica para estudo do folclore, a Folklore Society, sob a presidência de William Thoms. Seu objetivo: “... a conservação e publicação das tradições populares, baladas lendárias, provérbios locais, ditos vulgares, superstições e antigos costumes e deamis matérias concernentes a isso.”
Em 1913, a Folklore Society, avançando no campo de pesquisa , definia: “Folklore estuda tudo o que constitui o equipamento mental do povo, desde que distinto da procedência técnica”. (ALMEIDA, Renato. A inteligência do folclore. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. Americana; Brasília: INL, 1974. 308 p.)

No Brasil

No Brasil, os estudos e o interesse pelo folclore tomaram impulso com a Semana de Arte Moderna, em 1922.
Antes, da mesma forma que na Europa com os irmãos Grimm, Sylvio Romero (1851-1914), um professor, jurista, filósofo, jornalista, crítico literário, representante da famosa “Escola do Recife” (literária) empreendeu importante coleta de literatura popular e
fez várias publicações. Destacam-se os “Cantos populares do Brasil” e “Contos populares do Brasil”.
A Semana de Arte Moderna, com a participação de escritores, artista e músicos, foi uma ação renovadora, voltada para os nossos próprios valores nacionais, enfatizando a cultura popular como fonte de inspiração nacionalista. Até essa época, o costume era copiar os acadêmicos europeus.
Houve, em determinado momento, uma divisão de interesses: os artistas e os ficcionistas, passaram a fazer aproveitamento da temática folclórica em suas obras. Os estudiosos, empenharam-se em procurar orientação científica, a partir da pesquisa, para um estudo sistemático do folclore brasileiro.
Os estudiosos que se destacaram foram, principalmente: Mário de Andrade ( 1893-1945), um dos mentores de todo o movimento. Destacado intelectual, foi escritor, poeta, músico, pianista, crítico literário, professor, pesquisador de música folclórica, incentivador da pesquisa científica, com numerosas obras de coleta publicadas.
Na área do folclore, na mesma linha, segue-se Renato Almeida, escritor, músico, teórico de folclore, que criou a Comissão Nacional de Folclore sob auspícios do IBECC ( órgão da UNESCO: Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura) e as Comissões Estaduais que passaram a estudar e divulgar o folclore de todas as regiões do país. Renato Almeida publicou, em 1942, uma obra magistral abrangendo a história da música brasileira, erudita, popular e folclórica: História da Música do Brasil.
Aluno de Mário de Andrade, outro teórico do folclore, da mesma escola e mesma linha de pesquisa, é Rossini Tavares de Lima, fundador do Museu de Folclore (em 1954) que dirigiu por 40 anos e que hoje leva o seu nome. Também músico, escritor, jornalista, professor emérito, pesquisador, tem obras publicadas que são referências para o estudo da matéria. Foi dono, juntamente com Julieta de Andrade, da Escola de Folclore, especializada no ensino e pesquisa, e que funcionou no Museu até sua morte, em 1987. Aí formou-se grande número de especialistas que hoje lecionam folclore por todo o Brasil., na linha da pesquisa iniciada por Mário de Andrade.





Bibliografia
ALMEIDA, Renato. Inteligência do Folclore, 2ed. Rio de Janeiro: Americana/Brasília, 1974
LIMA, Rossini Tavares de. A Ciência do Folclore. São Paulo: Ricordi, 1978

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Mosaicos: Arte, Cultura e Educação



FOI LANÇADO O LIVRO
MOSAICOS: ARTE, CULTURA E EDUCAÇÃO
Em 27/10/2011

Com a organização de Francisca Eleodora Severino e Sonia Albano de Lima, o livro é uma coletânea de artigos de docentes e especialistas nas três áreas cujos nomes constam do cartão anexo.

Participei da coletânea com o estudo Música étnica africana: uma linguagem da vida.

Tivemos a honra de contar com prefácio do Professor Doutor Antonio Joaquim Severino, da Faculdade de Educação da USP.

O local do lançamento foi o Auditório I - Bloco B - 3º andar da
Universidade do Grande ABC ( UniABC)
Endereço: av. Industrial, 3330, Bairro Campestre, Santo André, SP