Páginas

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Comemoração dos 40 anos do Museu da Música de Mariana, MG.

 Paulo Castagna envia convite para comemoração dos 40 anos do Museu da Música de Mariana, MG. Professor do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista, Paulo Castagna é pesquisador de reconhecida competência técnica e artística da música antiga brasileira, séculos XVIII e XIX, tendo se dedicado ao riquíssimo acervo da música religiosa mineira deste período. Foi coordenador musicológico do valioso projeto Acervo da Música Brasileira - Restauração e Difusão de Partituras da Fundação Cultural da Arquidiocese de Mariana, MG., responsável pela publicação de nove volumes de partituras e nove CD´s, disponibilizados na página www.mmmariana.com.br Recebeu do governo de Minas Gerais a  Medalha da Inconfidência
          Além disso, é para mim um amigo precioso.



Convite  para os eventos comemorativos dos 40 anos do Museu da Música de Mariana (MG), que serão realizados nessa cidade nos dias 6 e 7 de julho próximos.

 O Museu da Música foi a primeira instituição criada especificamente para reunir e preservar manuscritos musicais brasileiros, de maneira ainda informal na década de 1960, mas oficializado em 6 de julho de 1973 pelo então Arcebispo de Mariana, Dom Oscar de Oliveira. Centro do maior projeto conjunto de edição e gravação de música antiga brasileira (o Projeto Acervo da Música Brasileira, patrocinado pela Petrobras entre 2001-2003), o Museu da Música de Mariana vem desenvolvendo vários projetos musicológicos, artísticos e sociais, e recebeu, do Programa Memória do Mundo da UNESCO, em 2 de dezembro de 2011, o Registro Regional para a América Latina e o Caribe (MOWLAC), tornando-se, assim, a primeira instituição brasileira do gênero com esse tipo de distinção.

domingo, 23 de junho de 2013

De Carlos Drumond de Andrade a Ludwig van Beethoven


BEETHOVEN

                      Carlos Drumond de Andrade (1973)

Meu caro Luís, o que vens fazer nesta  hora

de antemúsica pelo mundo afora?

 

Patética, heroica, pastoral ou trágica,

tua voz é sempre um grito modulado,

um caminho lunar conduzindo à alegria.

Ao não rumor  tiraste a percepção mais íntima

Do coração da terra que era o teu.

Urso- maior uivando a solidão

Aberta  em cântico: entre mulheres

passando  sem amor. Meu rude Luís,

tua  imagem assusta na parede,

em  medalhão soturno sobre o piano.

Que tempestade passou em ti e continua

a devastar-te no limite

em  que a própria morte se socorre

da vida, e reinstala

o  homem na fatalidade de ser homem?

Nós, os surdos, não captamos

o  amor doado em sinfonia, a paz

em  allegro enérgico sobre o caos,

que  nos oferta do fundo

de  teu mundo clausurado.

Nós, computadores, não  programamos

a exaltação romântica filtrada

em  sonatino adágio murmurante.

Nós, guerreiros nucleares, não  isolamos

o  núcleo de paixão de onde se espraia

pela  praia infinita essa abstrata

superação  do tempo e do destino

que é a razão de viver, razão florente

e grave

 

Tanto mais liberto quanto mais

em  tua concha não acústica cerrado,

livre da corte, da contingência, do barroco,

erguendo  o sentimento à culminância

da  divina explosão que purifica

o  resíduo mortal, a angústia mísera,

que  vens fazer, do longe de dois séculos,

escuro  Luís,  Luís luminoso,

em nosso tempo de compromisso e omisso?

 

Do fogo em que te queimaste,

uma  faísca resta para incendiar

corações  maconhados, sonolentos,

servos  da alienação e da aparência?

Quem comporá a Apassionata do nosso tempo,

Quem  removerá as cinzas, despertará a brasa,

Quem  reinventará o amor, as penas do amor,

quem  sacudirá os homens do seu torpor?

 

Boto no pickup o teu mar de música,

nele me afogo acima das estrelas.
                                                                                (Revista OSESP,  nº 3, maio, 2013)
 
 

                                                    Estudo de Kloeber para retrato de Beethoven

 

A descoberta deste  poema lindo e significativo sobre Beethoven, ou melhor, dirigido a Beethoven,   por Carlos Drumond de Andrade, me deu um desejo enorme de falar um pouco sobre o tema: meu compositor predileto e meu poeta predileto.  Encontrei-o na Revista OSESP, nº 3,  de 2013.

Este genial poema de Carlos Drumond de Andrade constitui uma análise delicada e ao mesmo tempo profunda  do pensamento e da postura de Beethoven diante da contingência de sua vida, que ele extravasa por meio da música, colocando nela a razão de resistir e viver,  de pertencer a um mundo hostil porém feito de seres humanos que ele considerava fraternos.  Por isso mesmo, os difíceis caminhos deveriam conduzir à alegria.  O exemplo é explícito  na Nona Sinfonia, uma das obras máximas da criação humana em música, cuja escrita foi feita quando o compositor contabilizava total e absoluta perda de audição e, mergulhado no mais profundo silêncio, ouvia os sons dentro da  cabeça e do coração, como afirmou. Pois bem, a Nona Sinfonia é extensa e complexa, uma síntese da essência da visão de mundo de Beethoven, com seus quatro movimentos que percorrem caminhos difíceis mas termina com o grande movimento coral  que canta a Ode à Alegria, do poema homônimo do poeta alemão Schiller. É um hino à alegria e à fraternidade universal. Esta peça é considerada o Hino da Humanidade e, não por acaso,  foi escolhida como hino da Comunidade  Europeia.  Quando foi estreada em 1824, em Viena, o compositor, no palco, de costas para o público não conseguiu ouvir sequer os aplausos entusiásticos.  Só se deu conta quando  uma cantora do coro chamou-lhe a atenção.  “ Em toda a história da música nenhum músico, com uma convicção tão profunda, terá concebido sua obra como uma doação e uma missão a serviço de toda a humanidade.” (Jean & Brigitte Massin, História da Música Ocidental)


O lema da Revolução Francesa era o paradigma da vida de Beethoven: Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

         No poema, metáforas e simbolismos misturam a semântica da música com a ética e a estética de Beethoven, envolvem  fatos da sua vida  (os desamores, a cruel surdez) e o trazem muito naturalmente à modernidade ( computadores, maconheiros, pickup) coroando a genialidade do, como não poderia deixar de ser,  Carlos Drumond de Andrade,   O poeta. Uma possível interpretação:

 

BEETHOVEN

                                         Carlos Drumond de Andrade.

Meu caro Luís, o que vens fazer nesta  hora

de antemúsica pelo mundo afora?

 

Patética, heroica, pastoral ou trágica,

(referência  às obras: Sonata Patética, Sinfonia Heroica e Sinfonia Patética)

tua voz é sempre um grito modulado,

um caminho lunar conduzindo à alegria.

(Sonata ao Luar e o coro da Ode à Alegria)

Ao não rumor  tiraste a percepção mais íntima

Do coração da terra que era o teu.

(não rumor: a surdez)

Urso- maior uivando a solidão

(foi chamado de urso pelo temperamento irascível, no fim da vida)

Aberta  em cântico: entre mulheres

passando  sem amor. Meu rude Luís,

(sem amor: teve vários amores mas não conseguiu realizar nenhum)

tua  imagem assusta na parede,

em  medalhão soturno sobre o piano.

(Imagem severa e angustiada em quadros e bustos colocados tradicionalmente sobre o piano)

Que tempestade passou em ti e continua

a devastar-te no limite

( sonata chamada de A Tempestade)

em  que a própria morte se socorre

da vida, e reinstala

o  homem na fatalidade de ser homem?

(menção ao Testamento de Heiligenstad onde Beethoven revela que esteve à beira do suicídio devido à surdez mas foi salvo pela arte. “Ah, parecia-me impossível deixar o mundo antes de ter dado tudo o que ainda germinava em mim!”)

Nós, os surdos, não captamos

o  amor doado em sinfonia, a paz

em  allegro enérgico sobre o caos,

(sinfonia, forma orquestral; allegro, indicação de andamento na música)

que  nos oferta do fundo

de  teu mundo clausurado.

(Mundo clausurado: ausência total de sons)

Nós, computadores, não  programamos

a exaltação romântica filtrada

(estilo romântico da sua obra)

em  sonatino adágio murmurante.

(Sonatino, de sonatina, forma musical; adágio, indicação de andamento)

Nós, guerreiros nucleares, não  isolamos

o  núcleo de paixão de onde se espraia

pela  praia infinita essa abstrata

superação  do tempo e do destino

que é a razão de viver, razão florente

e grave

 

Tanto mais liberto quanto mais

em  tua concha não acústica cerrado

livre da corte, da contingência, do barroco,

erguendo  o sentimento à culminância

(A surdez, concha não acústica, isenta-o de seguir estilos como  barroco,  e gostos da corte elegendo o sentimento o bem mais alto)

da  divina explosão que purifica

o  resíduo mortal, a angústia mísera,

que  vens fazer, do longe de dois séculos,

escuro  Luís,  Luís luminoso,

em nosso tempo de compromisso e omisso?

 

Do fogo em que te queimaste,

uma  faísca resta para incendiar

corações  maconhados, sonolentos,

servos  da alienação e da aparência?

Quem comporá a Apassionata do nosso tempo,

( Sonata Apassionata, uma das obras mais famosa)

Quem  removerá as cinzas, despertará a brasa,

Quem  reinventará o amor, as penas do amor,

(as penas do amor: sofrimento pelos amores frustrados)

quem  sacudirá os homens do seu torpor?

 

Boto no pickup o teu mar de música,

nele me afogo acima das estrelas.

 

LUDWIG VAN BEETHOVEN

 (Bonn, 1770-Viena, 1827)

                          “No mundo da arte, como em tudo que diz respeito à criação, o objetivo é a liberdade e a força de ir sempre mais além”- Beethoven

Creio que todos os amigos sabem da paixão que tenho por Beethoven, sua música, seus ideais de liberdade, fraternidade universal... por isso, quero falar sobre ele, aqui.

 
         4 de Julho de 1776 – Independência dos Estados Unidos;
14 de julho de 1789 – em Paris, a multidão enfurecida ataca a fortaleza da Bastilha, liberta 7 prisioneiros e desfila pelas ruas exibindo as cabeças dos guardas assassinados espetadas em paus. 3 anos depois é proclamada a   República da França e o exército dos cidadãos cerra fileiras ao som da nova canção patriótica  a Marselhesa. Luís XVI e Maria Antonieta são guilhotinados e um obscuro tenente da artilharia, Napoleão Bonaparte começa a preparar-se para ascender ao poder;
 1792 – George Washington é presidente dos Estados Unidos.

         Haydn está no auge da fama e o corpo de Mozart jaz numa campa de indigentes  no cemitério de Viena.
Este contexto histórico é lembrado por Claude Palisca e Donald Grout (História da música ocidental)

         Em 1787, um jovem músico alemão de nome flamengo ( pelo avô) é enviado a Viena para estudar com Mozart. Tem 17 anos e chama-se Ludwig. van Beethoven. A permanência é curta pois sua mãe morre em Bonn e ele volta para assumir a família ( 2 irmãos). Chegara a tocar para Mozart que lhe profetizara um futuro brilhante.

         Beethoven recebera a primeira formação musical – insatisfatória- do pai, cantor da capela de Bonn. Sua infância fora infeliz: o pai, alcólatra e brutal pretendera transformá-lo em menino prodígio, a exemplo de Mozart. Tirava-o da cama de madrugada para exibi-lo aos amigos ao regressar da taverna. Mesmo assim teve um grande mestre, Neef, e freqüentou a Universidade como ouvinte.    Tocava órgão, cravo, violino, viola, violeta; era exímio improvisador
Aos 12 anos acompanhava no cravo a orquestra da ópera de Bonn, substituindo seu professor. Era protegido do Príncipe Eleitor (o Arcebispo) Max Franz.   Aos 14 anos foi nomeado oficialmente organista-assistente da Corte de Bonn.   Aos 18 anos tocava violeta na orquestra da ópera. Aos 21 anos tinha prestígio excepcional junto à nobreza de Bonn.
 
          Em 1792, aos 22 anos, chega outra vez a Viena, com carta de seu protetor, Conde de Waldstein, o já compositor e pianista Beethoven  (viajara 800km de carruagem por uma semana). Haydn estivera em Bonn, ouvira composições de Beethoven e recomendara ao Arcebispo que o enviasse à Viena para estudos mais aprofundados. Não se sabe ao certo o que B. aprendeu com Haydn mas as lições continuaram até 1794, quando este foi para Londres e B.  teve outros professores, inclusive Salieri.
          Pouco mais de 10 anos após ter chegado à Viena, Beethoven é conhecido em toda a Europa como o maior pianista e compositor para piano do seu tempo e como compositor de sinfonias à altura de Mozart e Haydn. Tinha prestígio na sociedade, freqüentava as mais nobres famílias, tinha mecenas generosos mas  não se curvava para receber favores; mantinha sua independência e tratava-os com certa rudeza. Procurava não escrever música por encomenda. Escrevia para um público ideal, universal, como uma expressão de si mesmo, de sua individualidade e sua época histórica.

Beethoven começou a atuar em um momento da maior importância histórica: novas e poderosas forças que começavam a se manifestar na sociedade o afetaram profundamente e repercutiram em sua obra.  Tal como Napoleão ou Goethe, viveu as gigantescas convulsões que vinham se fermentando ao longo do séc. XVIII e que finalmente eclodiram com a revolução francesa.

Historicamente, a obra de Beethoven é construída no estilo  clássico mas as circunstâncias externas e a força criativa do seu gênio inquieto levaram-no a transformar essa herança e avançar para  características fundamentais do período romântico.

Beethoven desenvolveu sua obra na atmosfera do movimento literário do pré-romantismo alemão, de 1770 a 1790, inspirado nas idéias de Rousseau ( o homem nasce livre; todo homem é igual na a natureza) que os alemães chamavam de Sturm und drang  ( Tempestade e Paixão ou Impulso):  culto à natureza, libertação do indivíduo, primazia do gênio, da emoção, da sensibilidade;  reação contra o racionalismo e o classicismo.

Mas acontece uma tragédia que faz de Beethoven um solitário. Desde os 28 anos apresenta perturbações auditivas.  Aos 31/32 anos dá-se conta que está ficando surdo. Esta surdez, o mais terrível dos males para um músico, vai se agravando até que aos 50 anos, 1820, mergulha em silêncio total. Não percebe mais som algum.

Aos 32 anos, aterrado com a idéia de que possam perceber sua enfermidade. escreve uma carta aos irmãos, descoberta após sua morte, que ficou conhecida como Testamento de Heiligenstadt para ser lida depois que morresse. Nela relata de maneira comovente o seu sofrimento que chegou a lhe inspirar o suicídio.

 Personalidade

           Intransigente, detestava mentira e hipocrisia; idealismo absoluto sem concessões; comportamento selvagem ao mesmo tempo generoso, fiel, humanitário, fraternal

Obra - o humanismo da Revolução Francesa é o substrato ideológico da sua obra.


        -Cunho pessoal;   expressão direta da sua individualidade;

      -Novidade de concepção e força de pensamento;

     -o pensamento movia-se num plano tão elevado que sentia dificuldade de fazer música  para libreto de ópera porque tratava de pequenos atos, situações corriqueiras;

       - modificação da linguagem e das formas tradicionais;

       -forma sonata tomou proporções inéditas ( multiplicidade de temas; desenvolvimentos longos e complexos;  longas codas; dissimulação das linhas divisórias entre as partes dos andamentos, andamento scherzo)

       -idéias de caráter dinâmico e impetuoso que brincam com as estruturas simétricas do classicismo

        -1ª vez que se usa trombone em sinfonia- na Quinta

         - exploração intencional dos temas e motivos até o limite de suas potencialidades

         1ª Fase – até 1802 (32 anos) – clássico. Assimila a linguagem do seu tempo e vai descobrindo a sua própria: Quartetos de cordas op. 18, 10 primeiras sonatas p/ piano(até     op. 14), as 2 primeiras sinfonias.
         2ª Fase -  32 / 45 anos – independência, inovações, rupturas, elementos românticos. Sinfonias 3ª a 8ª, ópera Fidélio, aberturas, 2 concertos p/ piano e o conc. p/ violino, quartetos op. 59 ( Razumowisky), sonatas p/ piano até op. 90. (Período tranqüilo, próspero, mús muito tocada,  aplausos até no estrangeiro, mecenas generosos, encomendas dos editores, finanças favoráveis.)
           3ª Fase -  cerca de 1816 em diante – 45/56 anos – a surdez  que o fazia perder o contato com os sons e o mundo ao seu redor, tornava-o cada vez mais fechado e taciturno, irascível, desconfiado; tinha problemas com o sobrinho. Com o silêncio, volta-se para a concentração e o mundo interior onde só as notas existiam. As composições tomam um caráter cada vez mais abstrato, a linguagem cada. vez mais concentrada.   Nas últimas obras explora  temas e motivos até a última potencialidade;    dá efeito de continuidade obscurecendo  linhas divisórias.   A feição  abstrata, universal, manifesta-se no recurso ao contraponto, criação de efeitos invulgares, invenção de novas sonoridades.
         As derradeiras obras: as cinco últimas sonatas, Variações Diabelli,  Missa Solemnis, últimos quartetos, Nona Sinfonia – são a culminância da genialidade, da perfeição, do ideal estético, do belo musical; obras criadas no silêncio profundo da mente do autor ao qual era negada a percepção de qualquer mínimo resquício de som.
         O coral da Nona Sinfonia  revela os ideais éticos de Beethoven: a liberdade e a fraternidade universal do homem, tendo como base a alegria do amor de um pai celestial.

        Só raros contemporâneos compreenderam suas últimas obras.  Discute-se o romantismo de Beethoven. O componente revolucionário,  o espírito livre, impulsivo, misterioso, demoníaco, a música como expressão pessoal, fascinaram a geração romântica.

         “A música de Beethoven  aciona a alavanca do medo, do espanto, do horror, do sofrimento e desperta um anseio infinito que é a essência do romantismo”  ( T. A. Hoffman)


Beethoven foi o gênio mais disruptivo da História da Música. Ele criou um mundo novo.  Após ele, nada mais pode ser como antes.

           “A força dessa música interior encoraja as virtudes mais altas.   Faria andar um paralítico e transformaria em herói ou santo o mais abominável malfeitor.  A música de Beethoven desperta  sentimentos de justiça e liberdade tão profundos ... que os ditadores deviam desconfiar dela. Na época trágica do domínio nazí, o simples ritmo do princípio da 5ª  Sinfonia: UUU --   percutido nos tímbales significava para os ouvintes clandestinos da BBC a revolta e a esperança.  Quanto à Nona Sinfonia  - é o hino da nossa civilização.  (Roland de Candé)

 

___________________________________

        
         Foi editado agora em 2010, pela Zahar,  com tradução de Anna Hartmann Cavalcanti, o livro Beethoven escrito em  1870 por Richard Wagner, cuja capa ilustra este texto. O grande compositor homenageou Beethoven, a quem admirava, no centenário de seu nascimento. É um livro de caráter intrinsecamente estético com três abordagens principais na primeira das quais fica explícita a influência que Wagner sofreu de Schopenhauer para quem a música expressa a sabedoria suprema com uma linguagem incompreensível à razão. O livro explica a diferença entre as outras artes e a música: as primeiras são do domínio da bela aparência; a música é essência, arte sublime que pode despertar o êxtase do ilimitado. A segunda abordagem mostra, sobretudo , que para Beethoven não importava tanto mudar as formas mas sim expressar um novo mundo  ao revelar ao mundo exterior seu próprio mundo interior. Em terceiro lugar, enaltece a relevância da música para a transformação do mundo moderno e da civilização alemã. Beethoven, por meio de sua música, desempenha o papel de redentor da cultura alemã  e um dos grandes benfeitores da humanidade.