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terça-feira, 30 de abril de 2013

O Samba de S. Paulo está de luto: morreu Paulo Vanzolini


 Paulo Vanzolini

Está de luto o samba de São Paulo. Morreu Paulo Vanzolini, um dos seus maiores representantes, autor de Ronda, Volta por Cima, Na Boca da Noite, Praça Clóvis, Alberto, Capoeira do Arnaldo, dentre outras cerca de  setenta composições.

Está de luto também a comunidade acadêmica pois Vanzolini era um cientista, doutor em Zoologia, considerado o maior zoólogo da Capital,  tendo sido diretor do Museu de Zoologia da USP onde atuou por mais de 40 anos. Foi um dos idealizadores da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo). Recebeu numerosos prêmios como o da Fundação Guggenhein, em Nova York, em 2008. Escreveu mais de 150 artigos acadêmicos, dois livros sobre zoologia, um que é um resgate de trabalhos de naturalistas estrangeiros que estudaram a fauna brasileira no século XVII, produziu 3 documentários, etc.

“...cientista e boêmio irreverente cheio de disciplina e rigor de homem da noite que faz do dia seu espaço de trabalho [...] Viva pois esse Paulo poeta compositor cientista boêmio conversador que soube fixar tão bem pela arte momentos significativos da vida” Disse o literato Antonio Cândido


Lembrando a poética e a filosofia de vida de Vanzolini:

Chorei, não procurei esconder / Todos viram, fingiram/ pena de mim não precisava / Ali onde eu chorei / qualquer um chorava / Dar a volta por cima que eu dei / Quero ver quem dava/ Um homem de moral não fica no chão / nem quer que mulher venha lhe dar a mão / Reconhece a queda e não desanima / Levanta sacode a poeira / Dá volta por cima.  (Volta por cima)

sábado, 6 de abril de 2013

A Índia, o bebê e o porquinho do mato

Da cultura dos índios Guajá

A índia Guajá, o bebê e o porquinho do mato


Existe maior compromisso com a Natureza e a vida do que um gesto como esse?

 

Com o filho Tamataí no colo, a índia Huyra amamenta um filhote de porco-do mato, repetindo um hábito dos Guajá de tratar como crianças os filhotes de animais que matam.    

                                                          (Folha de S. Paulo, 20/12/1992)

 

        Acontece assim: alguém da tribo caça um animal e percebe que é uma fêmea e tem filhotes. Os “bebês” morrerão de fome se ficarem abandonados no mato. Ou poderão ser comidos por outros bichos.  Eles são então levados para a aldeia e as mulheres que estão amamentando também os alimentam.

        Simples assim. Sem discurso de ambientalistas, ecologistas, sociedades protetoras de animais ou repórteres de televisão.       Apenas a visão de mundo de seres humanos que cuidam da Natureza porque ela lhes dá a vida.

 

        Guajá é uma etnia indígena brasileira que se auto-denomina Awá, palavra que significa Homem, Pessoa ou Gente. Começou a ter contato permanente com o homem branco a partir de 1973 e habita o noroeste do Maranhão nas Terras Indígenas do Alto Turiassu e TI Caru, compartilhadas pelos Ka´apor, Timbira e Guajajara.

        Mais ao sul, nas TI (significa Terras Indígenas) Arariboia, foram avistados outros grupos de Guajá, estes arredios,  em acampamentos abandonados. Sabe-se de  outros mais distantes ainda, também sem contato com o branco, que se movimentam pelas serras e chapadas que ligam Maranhão, Tocantins, Goiás, Piauí, Bahia.

        A classificação lingüística dos Guajá é Tupi-guarani portanto do tronco Tupi. Sua população hoje é de cerca de 230 indivíduos vivendo em quatro comunidades aldeadas pela FUNAI; e acredita-se que cerca de 30  deles são os que habitam as florestas, em completo isolamento.

        Agricultura itinerante, caça e pesca são suas atividades de sustentação. Plantam mandioca, arroz, milho, batata doce, cará, banana, melancia, laranja e fazem muito uso do babaçu.

        Em sua organização social,  ao longo da vida, homens e mulheres podem ter vários matrimônios.

        Eles praticam um ritual chamado “viagem para o céu” (ohó iwa-beh),  em noites de lua cheia. Os homens são preparados pelas mulheres com enfeites de plumagem de aves e cantam e dançam ao redor da takaia, construção preparada no descampado da aldeia. Depois entram na takaia, um de cada vez e continuam dançando e batendo fortemente os pés no chão. Com o impulso deste forte movimento, sobem ao céu onde encontram os antepassados e outras entidades espirituais com  as quais interagem.  Retornam à terra “incorporados” e vão, dançando, ao encontro das mulheres e familiares que abençoam com sopros. As mulheres não “viajam” mas têm participação importante: pedem que eles voltem ao céu e tragam de lá entidades específicas para as consultas ou para a cura.       No momento deste ritual, o homem torna-se o elo de ligação entre o mundo dos espíritos e o mundo físico do cotidiano da comunidade.

        Os Guajá foram estudados pelo etnólogo paraense Louis Carlos Forline, da universidade Federal do Pará e do Museu Emílio Goeldi, que fez das suas pesquisas a tese de doutoramento The Persistence and Cultural Transformation of the Guajá Indians, aprovada pela Universidade da Flórida, em 1997. Ele tem obras publicadas sobre o tema.

        Para maior conhecimento,  vejam:



 

       

       

 

quarta-feira, 3 de abril de 2013