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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Eric Satie e o Neoclassicismo


Eric Satie e o Neoclassicismo


 


No início do século XX,  de 1914 a 1918, ocorreu a Primeira Guerra Mundial. Antes disso, o
Romantismo já atingira o seu apogeu e muitos compositores se encaminhavam para uma estética  de abertura e renovação,  percebida desde o final do século XIX. Depois da guerra houve mudanças substanciais não só no pensamento e nas atitudes, na maior parte do mundo ocidental,  como no contexto das artes em geral e da música. As gerações que viveram a guerra passaram a pensar a música de maneira diferente.


Importantes compositores decidiram buscar novos caminhos e um destes caminhos tinha por base a música mais antiga, anterior ao romantismo. Nasceu uma escola que foi chamada de Neoclassicismo, caracterizada por atitudes anti-românticas: a objetividade em vez da subjetividade do romantismo.  Tais  compositores sentiram-se atraídos por um retorno ao séc. XVIII, tratado  porém com ironia. Concluíram que podiam aproveitar muito do “velho estilo”: a vivacidade rítmica, nitidez de ideias, as  formas concisas do barroco e do classicismo (ao contrário dos modelos longos e complexos, a exemplo de Mahler). 

O neoclassicismo significava acima de tudo, ironia; e o objeto dessa ironia com o passado, podia ser buscado em qualquer época.

Um dos principais, senão o principal dos compositores dessa nova tendência,  foi Igor Feodorovitch   Strawinsky ( S. Petersburgo, 1882-  Nova York, 1971). Strawinsky entregou-se ao neoclassicismo motivado por Diaghilev.

 Serge Diaghilev ( Rússia, 1872- Veneza, 1929) foi um legendário e brilhante empresário de balé, fundador da companhia de Balés Russos, que eletrizou Paris na década de vinte.  Teve o extraordinário mérito de atrair e envolver em sua companhia e seus espetáculos os maiores compositores da época como Debussy, Strawinsky, Prokofieff, Ravel, Satie;  os maiores pintores como Picasso, Braque, Utrillo; os maiores escritores com destaque para Jean Cocteau. Produziu e criou coreografias antológicas para os balés Petruchka, Sagração da Primavera, Les Noces,  Parade, Jeux, Prélude à  l´ Aprés Midi d´un Faune.  Ainda revelou os mais célebres bailarinos da história, principalmente Nijinski, e outros como Serge Lifar e Ana Pavlova, tão importantes quanto.

 

Eric Satie  (França, 1866-1925)

Compositores do período tiveram atitude  sistemática e irreverente em relação ao passado, principalmente aqueles atuantes em Paris, cidade adotada por Strawinsky. Em 1920, influenciados pelo literato Jean Cocteau, alguns desses músicos reunidos no que se chamou o Grupo do Seis (que incluía Tailleferre, Poulenc, Darius Milhaud, Honegger, George Auric, Louis Durey) adotaram a estética da irreverência e anti-romantismo:  música  direta, secamente espirituosa e atual. Escolheram por modelo Eric Satie, que enveredara por uma espécie de dadaísmo[1] Ele queria a música reduzida ao estritamente essencial. Era dono de um terrível senso de humor e de paródia. Colocava títulos surrealistas em suas peças como: Choses vues à Droite et à Gauche sans lunettes,  Trois morceaux en forme de poire, Sonatine Bureaucratique, Embryions dessechées ( Coisas Vistas à Direita e à Esquerda sem Óculos, Três peças em forma de Pera, Sonatina Burocrática, Embriões Dissecados) e cultivava sua inconsequência na “música de mobiliário”,  isto é, música de fundo, destinada a ser ignorada. Suas indicações de dinâmica eram no mesmo estilo: pp en pauvre souffle , avec beaucoup de mal ( pp já sem fôlego com muita dificuldade). Na música, a escrita era esparsa, seca, caprichosa, paródica, espirituosa como no balé Parade (1917) que descreve uma parada, um desfile de circo,  numa  sucessão de construções musicais  ingênuas e de cuja orquestração fazem parte os sons de um revolver e de uma máquina de escrever. Entre outros exemplos despojados e minimalistas, estão as Gnossiennes e as Gymnopedies,  peças para piano.

Para o balé Parade,  Picasso desenhou a cortina de cena do palco do teatro que ficou famosa e hoje corre mundo em exposições a exemplo da que foi realizada em S. Paulo, em 2004. Picasso  desenhou também a capa da partitura de Rag-time, de Strawinky,  o cenário e figurinos para o balé Pulcinella e a caricatura  do autor;  Jean Cocteau fez a caricatura de Satie.

            Os primeiros anos do século XX representaram um período de rupturas, de amplas mudanças, de liberdade de criação e de multiplicidade de tendências que marcaram a história da música ocidental. ( Alex Ross, O Resto é Ruído; Paul Grffiths, A Música Moderna).( Caricatura de Satie por
Jean Cocteau - Griffiths)
           

 

 

[1] Dadaísmo- movimento literário lançado em 1916 por Tristan Tzara, escritor francês de origem rumena (1896-1963) e cujo princípio essencial era, tal como no superrealismo que lhe sucedeu o apelo ao subconsciente: dada.

 

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