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sábado, 16 de outubro de 2010

UM FILME PARA SE PENSAR


Um filme para se pensar...e muitoA Teta Assustada ; uma jornada do medo à liberdade

Direção de Claudia Llosa. Peru, 2009
Vencedor do Urso de Ouro no Festival de Berlim em 2009
Concorreu ao Oscar como melhor filme estrangeiro em 2010

Está escrito na caixa do DVD: “Metáfora do rompimento. Um país reprimido que só pode se expressar através do inconsciente: seus mitos, seus medos seus traumas. O corpo de uma mulher expressa o vazio que precisa ser preenchido; a angústia que precisa se acalmar; o pavor de encontrar algo diferente, de perder o controle.”

Este é um filme impressionante, cheio de metáforas, símbolos e mitos e uma realidade cultural que emociona.A história se passa em um povoado no Peru, habitado por descendentes dos índios que sofrem violenta opressão das forças oficiais. É uma sociedade muito pobre, aculturada e que convive com os avanços tecnológicos da civilização. A protagonista, uma bonita moça, amedrontada e tímida, vê sua mãe, uma velha índia, no leito de morte, relatar cantando sua trágica história, por meio de uma melopéia que lembra o cantochão. Ela descreve como, grávida da filha, foi violentada, assistiu ao assassinato cruel do marido e sofreu todo tipo de sadismo e torturas sexuais. O vandalismo era sistemático contra as populações indígenas o que motivou uma situação inacreditável: as mães lançavam mão de uma estratégia desesperada para proteger as filhas inserindo uma batata em suas partes íntimas. O tubérculo lançava raizes e estabelecia um campo asqueroso. E os “fardados”, por nojo, as deixavam em paz. Essa é uma metáfora do rompimento, da libertação – que, na verdade, constituía outra terrível prisão. Essas moças tinham a síndrome chamada de “teta assustada”. Como a protagonista que, traumatizada, tinha medo de sair sozinha, fugia dos homens e se apavorava diante de uma farda.
Ela tenta de todas as maneiras enterrar a mãe de maneira digna mas não tem dinheiro e se emprega na casa de uma pianista para conseguí-lo. Aí, uma simbologia envolve a música: a moça só se expressa cantando, como a mãe. A pianista se prepara para um recital. Mulher branca e fria, não conseguia transmitir emoção e determina que a empregada cante sempre, prometendo dar-lhe uma conta de um colar arrebentado, a cada canção. No recital, sai-se bem e, em seguida, manda a moça embora sem lhe dar as contas do colar. Como se lhe sugasse a emoção e depois a jogasse fora.

A moça conhece o jardineiro da casa e sua bondade, abnegação e paciência acabam por conquistá-la. Ela rouba as contas e finalmente perde o medo e cria coragem para fazer a cirurgia e libertar seu corpo do estigma. Por amor. Esta é outra metáfora da libertação.

Um comentário:

  1. Como a música pode salvar alguém de seus medos e revelar os mais íntimos segredos. Mais uma vez o cinema nos mostra que aonde existe a beleza de uma simples nota musical pode haver a maldade daquela patroa tão insensível...a violência que gera um trauma, e mais outro e mais outro...a mãe morta daquele jeito e ela com tanto medo...cada um tem os seus a luta como pode contra eles...filme difícil de assistir!

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